Conto: Relação Indecente (Parte 5)

Vários dias passaram dado esse acontecimento e vários acontecimentos se sucederam no mesmo quarto. Confesso que com o tempo o prazer foi diminuindo, enquanto que o de Jessy aumentava e aumentava. Muitas vezes ia sozinha ter com ele, mesmo sabendo que eu tinha conhecimento disso. Um dia, numa semana das nossas férias, lembro-me de ela dizer algo que me chocou completamente, disse que se sentia tonta, que tinha vómitos e tudo apontava para uma gravidez que com o tempo e os devidos testes se veio a confirmar. Também havia certeza de quem era o pai e esse facto deixava-a em pânico completo porque não sabia como este iria reagir. Tentei acalma-la mesmo estando numa pilha de nervos, ver a pessoa que amo grávida de outra pessoa que não devia ter passado de uma simples aventura era como agulhas que se cravavam no meu coração.

relação indecente

Aconselhei-a a ir sozinha ter com ele e contar-lhe o sucedido. Foi isso que ela fez e eu com toda a impaciência a apoderar-se de mim decidi segui-la e espreitar a conversa de ambos. Fiz algo que nunca havia ter feito. Quando me aproximei de sua casa, conseguia ouvir gritos que reconhecia serem de Jessy. Aproximei-me e espreitei por uma janela entreaberta. Ele estava a agarra-la no pescoço com demasiada força para ser apenas um carinho, com demasiada força para ser um simples abraço. Ele estava a sufoca-la. Fiquei branca, sem forças e sobretudo sem reação. Pelo vidro conseguia ver a cara de horror de Jessy, o modo como ela se desvanecia, rompida pela força de tão grandes braços. Ao ver aquilo, ao ver Jessy cair no chão morta, senti-me fraca, por não poder ter feito nada. Tinha vindo demasiado tarde.

Apenas pensava no que tinha feito. Porque razão a tinha deixado vir sozinha? Fui para casa, sem cabeça suficiente para pensar no que iria fazer e no que deveria ser feito. Estava com medo, triste, com nojo de mim própria por ter mantido uma relação com alguém sem coração Considero-me parva, toda a minha vida, fazendo o que sempre quiz sem nunca me importar de nada, apenas de uma coisa, a Jessy, a menina que amo e que agora acabei por perder.

Esperei toda a noite acordada pelo dia seguinte, já tinha decidido, que iria fazer justiça pelas minhas próprias mãos. Peguei a antiga arma de meu pai que com o tempo ganhou pó e teias de aranha. Tinha balas, tinha coragem, tinha revolta dentro de mim. Quando chegou o novo dia entrei na escola, com a arma na mochila, entrei na sala e assim que vi aquele traste entrar, disse “Isto é por tudo o que fizeste à minha amiga canalha” e disparei. O professor foi morto e eu por ter 18 anos fui condenada à prisão.

Agora estou a terminar a minha pena, fui condenada por um homicídio e pela posse de drogas. Atualmente tenho 27 anos, falta-me um ano para me livrar desta cela. Se me perguntarem se aprendi algo, digo que aprendi demais. Aprendi que sempre fui algo que no fundo não era. Aprendi que as minhas atitudes não me levaram a nada para além da prisão. Aprendi que se a minha mãe era assim foi porque não ajudei. Aprendi também que o meu pai morreu cedo demais para me ajudar. Aprendi que temos de proteger o que mais gostamos, porque é sempre a primeira coisa que perdemos. E agora, fora da cadeia, só desejo o que todas as raparigas como eu desejam, poder voltar a nascer e fazer a minha vida  de um modo completamente diferente. Não sinto falta de nada desse tempo, nada para além da minha amiga Jessy a pessoa que mais amava nesta vida e que acabei por perder graças à minha imaturidade.

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