Poliamor: o que é e por que causa tanta confusão?

Amar mais que uma pessoa, numa união que tem como base o princípio da fidelidade, da honestidade e da harmonia – falo claramente e concretamente sobre Poliamor, um tipo de relação que quebra as regras de amor que todos conhecemos. Não se trata de uma necessidade, de uma vontade ou simples desejo. Uma relação segundo os termos do Poliamor é regida essencialmente por toda uma questão emocional e afetiva, daí fazer sentido a palavra amor neste conceito.

Seja numa relação com dois, três ou mais pessoas é imprescindível a fidelidade, a segurança e a estabilidade. Há um complemento de amor, uma conjugação perfeita entre os indivíduos, sem lugar a ciúmes, obsessões, complexos e preconceitos. Não há géneros definidos dentro das relações nem procura de novos elementos pois como em todos os outros casais tem efectivamente que haver sentimentos. Também não é apenas sexo, alias, não é necessário haver sexo neste tipo de prática.

poliamor

O Poliamor passa também por uma questão de liberdade para ser feliz e, numa perspectiva mais pessoal, passa também por uma procura incessante da perfeição e da estabilidade que por vezes não se consegue encontrar numa pessoa apenas. Como não praticante do Poliamor, questiono-me sobre factos que qualquer pessoa que não siga esse modelo de relação provavelmente se questionará também.

É evidente que é necessária uma abertura mental, uma compreensão e uma aceitação e interpretação de vários sentimentos que considero serem comuns a qualquer ser humano, embora vistos de diferentes perspectivas. O facto é que para um praticante do Poliamor é normal e natural amar várias pessoas simultaneamente, assim como relacionar-se com mais que uma pessoa, com o conhecimento e consentimento de cada membro da relação. Não há o sentimento de posse e controlo. Contudo não há também o sentimento de exclusividade e a intimidade está comprometida.

Para a compreensão do conceito de Poliamor é necessária uma distinção relativamente a outras práticas e circunstâncias que interferem e deturpam os ideais deste modo de relacionamento:

Relação Aberta – Numa relação aberta (geralmente monogâmica) há a possibilidade de haver outros relacionamentos para além da relação em causa. Contudo o conceito de relação aberta não pressupõe uma aceitação e abertura relativamente ao assunto, há a possibilidade de não conhecimento das situações fora da relação. Uma relação aberta pode envolver questões meramente sexuais, o que segundo os princípios do Poliamor é rejeitado. Todas as relações dentro desta prática implicam afectividade e fidelidade.

Swing – O swing é uma prática sexual entre dois casais onde há a possibilidade de todos os elementos do grupo trocarem experiências entre si. De facto pode ser uma prática contida dentro do conceito de Poliamor, distinguindo-se apenas na questão emocional, distanciando-se da exclusividade do prazer carnal. O swing é possível entre relações de poliamor, contudo pressupõe toda uma base sentimental, emocional e afetiva.

Confusões entre sentimentos – Os adeptos do Poliamor excluem a ideia de que os seus sentimentos não são bem fundamentados ou bem conseguidos. Entre os praticantes existe harmonia e definição de cada sentimento por cada indivíduo na relação, não revelando qualquer desequilíbrio nesse sentido. Para os defensores, amar é natural, não é exclusivo nem fechado. Existem várias formas de amar sim, mas há de facto possibilidade de conjugar o amor e haver felicidade deste modo.

Poliamor basicamente é traição?

Quando se fala de poliamor, fala-se muito do conceito de traição. É muito comum as pessoas referirem que o poliamor é apenas uma desculpa para as pessoas poderem trair alguém. As pessoas que vivem este tipo de relação, preferem ver a mesma como algo com as suas regras próprias.

Assim como uma relação monogámica, defende a exclusividade, o poliamor alarga esse conceito e cria a sua regra própria. Sendo assim deixa de ser vista como traição. Por exemplo, no poliamor é permitido existir mais do que um parceiro ou parceira, mas a outra pessoa tem de saber sobre a existência do mesmo, caso contrário tratar-se-á na mesma de traição.

O grande problema é que cada pessoa pode criar as suas regras. Quem inventou que um relacionamento é apenas entre duas pessoas? A sociedade? A igreja? Qual é a autoridade à qual devemos responder se quebrarmos esta regra? Dentro das suas próprias regras, que são válidas, poliamor não é traição.

Porque causa tanta confusão nas pessoas?

O Poliamor é um conceito contemporâneo contudo a sua prática não é recente, os seus ideais são postos em prática desde que o ser humano teve capacidade de se relacionar. A afetividade é inerente ao ser humano e cada pessoa tem a capacidade de amar, seja de que maneira for. Esta é apenas uma delas.

Quando se desafiam os conceitos tradicionais de relacionamento e quando se vai contra as nossas próprias preferências, é normal que surja confusão. As pessoas gostam de algo e defendem isso mesmo. As pessoas acreditam que existem regras, que apareceram não sei de onde e tudo o que vá para lá delas está errado.

As pesoas têm problemas em aceitas ideias contrárias das suas e como tal é muito complicado impor este tipo de relacionamento sem que o mesmo seja confundido com traição. Os tempos e gostos mudam mas esta é uma prática que precisará de bastante tempo para poder ser vista como “normal”.